terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Contratos de cessão de uso de águas para aquicultura extrapolam a meta

 


Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) celebrou neste ano 270 novos contratos de cessão de uso de Águas da União para fins de aquicultura, superando a meta estabelecida no Plano Plurianual 2024-2027 (PPA), que previa a meta de 229 contratos para o ano. Esses novos contratos têm o potencial de incrementar a produção nacional em mais de 120 mil toneladas de pescado por ano.

Esse número representa mais que o dobro dos contratos firmados em 2023, quando foram celebrados 142. Além disso, estima-se que os contratos de 2024 possam gerar 8.530 empregos, dos quais 1.706 são diretos e 6.824 indiretos. A iniciativa desempenha um papel estratégico no fortalecimento do setor aquícola, contribuindo para a geração de renda, a criação de novas oportunidades de trabalho e o desenvolvimento socioeconômico regional.

O Plano Plurianual (PPA) é o principal instrumento de planejamento orçamentário de médio prazo do Governo Federal, estabelecendo diretrizes, objetivos e metas para um período de quatro anos. Entre os compromissos do PPA 2024-2027 está a ampliação das cessões de uso de Águas da União para a aquicultura, com metas progressivas: 238 contratos em 2025, 246 em 2026 e 254 em 2027. O resultado já alcançado em 2024 destaca o comprometimento do MPA com o fortalecimento do setor e com a sustentabilidade do crescimento aquícola no Brasil.

“Superar a meta, com folga, no primeiro ano deste PPA é um marco que reflete o comprometimento do nosso trabalho e a liderança do presidente Lula, que enxerga a pesca e a aquicultura como vetores de desenvolvimento do Brasil. Esse resultado é fruto de uma gestão integrada, que enxerga na produção aquícola uma oportunidade de gerar emprego, renda e fortalecer nossa segurança alimentar,” destacou o ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula. “Seguiremos avançando com ainda mais determinação, levando oportunidades a cada vez mais brasileiros”, concluiu.

Comentário do Engenheiro Ivo Pugnaloni, CEO da ENERCONS:

Os reservatórios das nossas hidrelétricas, de qualquer porte, podem ser usados para a aquicultura, como consta do Decreto 24.673/34., conhecido como o "Código de Águas". E deveriam existir até mesmo estímulos para essa atividade. Gerar apenas energia com a água, um recurso tão precioso, é quase um absurdo num mundo que passa por secas cada vez mais graves. 

As inverdades sobre as hidrelétricas não podem mais ser simplesmente aceitas sem uma contestação mínima, que leve em conta todos os benefícios da agua armazenada pelas usinas e pequenas hidrelétricas. Isso pelo menos obrigaria algumas fontes de informação patrocinadas usarem argumentos de melhor qualidade em suas campanhas publicitárias a favor do uso cada vez maior das termoelétricas na base do nosso sistema. 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Bacelar critica projeto que obriga detector de metais e cercas elétricas em escolas

 



Tramitação de Urgência foi aprovada em sessão que discutiu temas relacionados à segurança pública


O deputado Bacelar (PV/BA) se posicionou firmemente contra a urgência aprovada na Câmara dos Deputados, na última segunda-feira (9), para o projeto de lei 1672/2023, que propõe a instalação obrigatória de cercas elétricas e detectores de metais em escolas públicas e privadas em todo o Brasil.


Para Bacelar, um dos principais defensores da educação e da luta pelo Fundeb, a proposta é uma “bizarrice” que revela um grande desconhecimento da realidade das aproximadamente 180 mil escolas espalhadas pelo país. O projeto sugere que a execução dessas medidas nas escolas públicas seja financiada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).


Em sua justificativa, os autores do projeto defendem que o ambiente escolar deve ser “acolhedor” e que a segurança dos alunos e servidores é essencial. No entanto, Bacelar critica duramente a proposta: “Este projeto é típico da bancada da bala, que, insatisfeita em espalhar a violência pelo Brasil, agora tenta invadir a Comissão de Educação com uma medida tão absurda. Escola não é prisão, para justificar todo esse aparato”, afirmou o deputado.


Especialistas e sindicatos de educadores apontam que as medidas propostas são superficiais e não atacam as causas reais da violência nas escolas, além de criarem um ambiente hostil para crianças e adolescentes. Para Bacelar, o foco deveria ser outro: “De Brasília, não podemos ditar como cada escola brasileira deve funcionar. O que a educação brasileira precisa é de investimentos sérios, não de bizarrices como essa”, concluiu.

A urgência de bons projetos para enfrentar os desafios climáticos

 


Muito se discute sobre a necessidade de aumentar o financiamento para enfrentar os desafios do clima, mas sem bons projetos e profissionais preparados, não será possível caminhar na direção correta

Por Malu Nunes*


As mudanças climáticas já alteram a dinâmica de muitas cidades, trazendo grandes desafios a serem superados diante de tempestades, secas severas, ondas de calor e outros eventos extremos. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2024 tem tudo para ser considerado o novo ano mais quente da história. As manchetes alertam para um futuro muito desafiador e cada vez mais complexo, especialmente para os países menos desenvolvidos, que estão mais vulneráveis às consequências de um clima extremo.


Como resposta para um quadro que vem se agravando, ano após ano as nações em desenvolvimento clamam por mais financiamento para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A decepção com a meta de financiamento climático muito abaixo do esperado no acordo final da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP29) mostra que ainda há uma enorme distância entre os recursos disponíveis e as necessidades dos países.


É justo que a busca por recursos financeiros, especialmente provenientes dos países mais ricos e que mais contribuíram para que chegássemos ao quadro atual, seja um dos temas prioritários nesses fóruns internacionais. Entretanto, tão importante quanto a busca pelo dinheiro é a clareza sobre o realmente precisa ser feito em cada país, em cada território.


Observamos que a adaptação eficaz para esta nova realidade carece de projetos robustos e estruturados, reunindo conhecimentos e experiências de diferentes áreas e setores da sociedade. Mas quais são as soluções mais acertadas? E, sobretudo, como não repetir erros do passado em locais já afetados por eventos extremos que tendem a se repetir e, talvez, com mais força?


O trabalho conjunto e integrado entre autoridades, especialistas, universidades, organizações da sociedade civil, investidores e empresários, cada um contribuindo com seu know-how, aponta para a elaboração e execução de projetos que atendam às demandas climáticas de cada região. Enquanto a luta para reduzir as emissões de gases de efeito estufa exige uma governança global, a adaptação às mudanças climáticas sempre deve ser local, pensada a partir das características de cada território.


Representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) alertaram ao longo deste ano para a dificuldade em elaborar planos para a reconstrução de locais impactados por eventos climáticos extremos. Não bastam apenas recursos para reduzir transtornos imediatos, é necessário que administradores, antes de tudo, estruturem e apresentem projetos qualificados e habilitados para financiamento.


É aí que o modelo de ação conjunta e compartilhada pode fazer toda a diferença na vida daqueles que já sofrem com as dificuldades impostas pelas mudanças climáticas. Nessa proposta de atuação coesa, é possível apontar iniciativas cujo modelo pode contribuir e servir de inspiração na proteção de regiões brasileiras sensíveis às instabilidades climáticas. Programas pioneiros como o Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza em Cidades, realizado pelo WRI Brasil em parceria com a Fundação Grupo Boticário, entre outros parceiros, precisam ser incentivados e ganhar mais escala.


A experiência mostrou que é necessário – e possível – criar ambientes para a colaboração, capacitação e desenvolvimento de ideias e soluções para desafios climáticos nas diferentes realidades do nosso país. É preciso investir em tempo de qualidade para que profissionais que atuam em diferentes áreas do poder público possam se desenvolver com mentorias e orientações técnicas e possam cocriar, aperfeiçoar e buscar soluções inovadoras, aplicáveis e com potencial de escala para contribuir no enfrentamento de desafios ambientais contemporâneos.


Outra lição aprendida é a certeza de que, para qualquer projeto idealizado para conter os efeitos das mudanças climáticas, devemos apostar nos benefícios das Soluções Baseadas na Natureza. É preciso, por exemplo, aumentar a capacidade de infiltração da água no solo; conciliar a infraestrutura convencional – cinza – com soluções verdes, como parques alagáveis, lineares e jardins de chuva. Sem esquecer de iniciativas individuais, como a captação da água da chuva em empreendimentos industriais, comerciais e residenciais, além dos telhados e paredes verdes.


Diante da dificuldade em estruturar projetos relacionados às emergências ambientais nos municípios, o Plano Clima, em desenvolvimento pelo Governo Federal, precisa estar conectado com a percepção local, em diferentes setores da sociedade, para chegar a uma política climática brasileira consistente e exequível para ser efetivamente praticada nos próximos anos.


Esse movimento também deve ter participação da iniciativa privada. O conceito de ESG ‒ compromisso público de corporações considerando maneiras de reduzir o impacto ambiental que suas ações provocam e aumentar os benefícios sociais e melhorar a gestão de seus processos, com foco na transparência ‒ ganha espaço na proposta de coparticipação de empresas na idealização de projetos de adaptação.


Para isso, as organizações podem identificar vulnerabilidades na realidade em que estão inseridas e elaborar planos de adaptação e operação com potencial de transformar seu entorno, desde que a empresa assuma papel de articulador de recursos e na governança das ações. Assim, investir em soluções sustentáveis não se trata somente de se adaptar às mudanças climáticas, mas também participar de transformações na sua comunidade, agregar valor aos produtos e aumentar sua competitividade no mercado global com atributos ambientais.


A cooperação de diversos segmentos da sociedade, com ações coordenadas e integradas que vão além do esforço das autoridades locais, torna-se uma exigência para enfrentar a nova realidade que vivemos. Também requer visão sistêmica, entendimento sobre as causas e consequências dos eventos climáticos extremos, compartilhamento e associação de experiências e conhecimentos multissetoriais para a criação e implementação de alternativas inovadoras e duradouras. Infelizmente, temos pouco tempo para ajustar a nossa rota…


(*) Malu Nunes é diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza


sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

‘Máquina de nuvens’: emissões da floresta amazônica e descargas elétricas produzem partículas de chuva

Luciana Constantino | Agência FAPESP – Um grupo internacional de pesquisadores, com destaque para a participação de brasileiros, conseguiu pela primeira vez desvendar o mecanismo físico-químico que explica o complexo sistema de formação de chuvas na Amazônia, com influência no clima global. Envolve a produção de nanopartículas de aerossóis, descargas elétricas e reações químicas em altitudes elevadas, ocorridas entre a noite e o dia, resultando em uma espécie de “máquina” de aerossóis que vão produzir nuvens.

A pesquisa, publicada hoje (04/12) na capa da revista Nature, descreve os mecanismos de como o isopreno – um gás liberado pela vegetação por meio de seu metabolismo – é transportado até a camada da atmosfera acima da superfície terrestre próxima da tropopausa durante tempestades noturnas. Uma série de reações químicas desencadeadas com a radiação solar dá origem a uma grande quantidade de aerossóis que formam as nuvens. Esta produção de partícula é acelerada por reações com óxidos de nitrogênio produzidos por descargas elétricas na alta atmosfera, em nuvens dominadas por cristais de gelo.

Até então, os cientistas já haviam identificado as partículas em outra expedição, mas não o mecanismo físico-químico completo. Acreditava-se que o isopreno não chegaria às camadas superiores da atmosfera porque reagiria ao longo do caminho, pois é bastante reativo, e se degradaria rapidamente com a luz solar. Com a descoberta desses novos mecanismos, será possível aprimorar modelos do sistema terrestre, ferramentas fundamentais para simular o clima e compreender o funcionamento presente e futuro do planeta.

Para chegar ao resultado, o grupo usou o material obtido durante o experimento científico CAFE-Brazil, sigla em inglês para Chemistry of the Atmosphere: Field Experiment in Brazil. Único desse tipo, o experimento realizou diversos voos sobre a bacia amazônica entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, a 14 quilômetros (km) de altitude, o que corresponde a duas vezes a altura do Aconcágua, ponto mais alto da América do Sul. Totalizou 136 horas de voo, cobrindo 89 mil km – mais do que duas voltas completas na Terra pelo Equador.


Aeronave de pesquisa do projeto CAFE-Brazil logo após a decolagem (foto: Dirk Dienhart/Instituto de Química Max Planck)

“Um dos destaques desse trabalho é ver como a Amazônia tem uma simbiose de complexos mecanismos e importantes fenômenos que agem dentro de um sensível equilíbrio do ecossistema. A preservação desse equilíbrio permite manter as condições do clima como conhecemos atualmente. Alterações como as provocadas pelas mudanças climáticas ou pelo desflorestamento podem gerar efeitos inesperados e não estudados ainda”, explica à Agência FAPESP um dos autores brasileiros da pesquisa, o professor Luiz Augusto Toledo Machado.

Pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e colaborador do Departamento de Química do Instituto Max Planck, na Alemanha, Machado diz que o resultado abre um horizonte amplo para analisar o impacto do aquecimento global no clima, no meio ambiente e no ecossistema.

Para Paulo Artaxo, coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável (CEAS) da USP, professor do IF-USP e coautor do artigo, os resultados permitem realizar modelagens com mais confiabilidade, podendo incluir mecanismos do ponto de vista físico-químico e biológico.

“As emissões de isopreno dependem da floresta em pé. Elas não ocorrem se a vegetação nativa for substituída por pastagem ou cultura de soja. Com o desmatamento, esse mecanismo de produção de partículas é destruído, reduzindo a formação de nuvens e de precipitação. É o que chamamos de realimentação negativa no sistema climático total, pois o desmatamento traz redução de precipitação de maneira significativa por diminuir a evapotranspiração e a produção de partículas, que dependem das emissões de isopreno”, afirma Artaxo.

Levantamento divulgado pelo MapBiomas em outubro, com base em imagens de satélites, mostrou que pastagem foi a principal finalidade do desmatamento da Amazônia entre 1985 e 2023. No período, o crescimento dessa área foi de mais de 363%, passando de cerca de 12,7 milhões para 59 milhões de hectares. Com isso, 14% da Amazônia tinha virado área de pastagem em 2023.

O mecanismo

A floresta exala aromas muito característicos. São gases conhecidos como compostos orgânicos voláteis (VOCs, na sigla em inglês), entre eles o terpeno – grupo de substâncias encontradas em resinas de árvores e óleos essenciais – e o isopreno. Estima-se que as florestas em todo o mundo liberem mais de 500 milhões de toneladas de isopreno na atmosfera anualmente, sendo que um quarto dessa emissão vem da Amazônia.

Na floresta amazônica, o isopreno é emitido durante o dia, pois depende da luz do sol. Acreditava-se que o gás não alcançava as camadas mais altas da atmosfera porque seria destruído em poucas horas por radicais hidroxila, altamente reativos. “Agora, estabelecemos que isso é parcialmente verdade. Ainda há quantidade considerável de isopreno à noite. Uma parte significativa dessas moléculas pode ser transportada para camadas mais altas da atmosfera”, afirma em nota o autor correspondente do artigo, Joachim Curtius, professor da Universidade Goethe de Frankfurt (Alemanha).

Durante a noite, tempestades tropicais sobre a floresta ajudam a transportar gases, como o isopreno, para camadas mais altas por meio de convecção intensa. Semelhante a um aspirador, esse processo é impulsionado por correntes de ar ascendentes, especialmente em regiões com alta umidade e calor acumulado. Os gases se combinam com compostos de nitrogênio provenientes dos relâmpagos na alta atmosfera.

Nas áreas mais altas, entre 8 e 15 km de altitude, as temperaturas chegam a 60°C negativos. Cerca de duas horas após o sol nascer, os radicais hidroxila que se formam também nessas altitudes reagem com o isopreno, dando origem a nitratos orgânicos, compostos diferentes dos encontrados próximos ao solo. Produzem, assim, altas concentrações de nanopartículas de aerossóis, com mais de 50 mil delas por centímetro cúbico.

Essas partículas crescem ao longo do tempo e são transportadas por longas distâncias, podendo atuar como núcleos de condensação de nuvens. Influenciam o ciclo hidrológico global, o balanço de radiação e o clima. Os mecanismos de formação desses compostos nitrogenados orgânicos agora serão incorporados nos modelos climáticos, melhorando a previsão de chuvas, especialmente em regiões tropicais.

A FAPESP apoia o estudo por meio de um Projeto Temático vinculado ao Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e liderado por Machado e outro por Artaxo, além de outros quatro projetos (23-04358-9, 21/03547-7, 22/01780-9 e 22/13257-9).

Além dessa pesquisa, a Nature traz na mesma edição outro estudo desenvolvido por parte da equipe de pesquisadores que trata da nova formação de partículas a partir do isopreno na troposfera superior. Eles reproduzem em câmaras experimentais as condições presentes nessas altitudes, analisando em detalhe as reações desencadeadas pela luz solar.

A expedição

Vários voos de pesquisa realizados no experimento CAFE-Brazil contribuíram para a geração de perfis de altitude para diferentes gases. Foi possível medir massas de ar transportadas para a troposfera superior e as diferenças entre as situações diurnas e noturnas.

O professor Machado, que participou da coleta de informações na Amazônia, conta que os voos chegavam a ter duração de até 12 horas. “Virávamos a noite. Percebemos que as partículas se formavam de manhã. Por isso, saíamos de madrugada. As equipes iam para o aeroporto para voar, enquanto eu e outros pesquisadores ficávamos na sala de operações acompanhando e dando diretrizes das previsões e de onde estavam as chuvas. Eu também fazia voos que entravam nas nuvens para medir isopreno. Era bem emocionante”, relata.


Machado, à esquerda, durante um dos voos (foto: acervo pessoal)

A base de trabalho foi montada em Manaus (AM). Os voos eram realizados com o avião HALO (sigla em inglês para High Altitude and LOng range research aircraft), uma aeronave de pesquisa para longas distâncias (mais de 8 mil km), altas altitudes (até 15,5 km) e grandes cargas (até 3 toneladas). O experimento contou com a parceria entre a Universidade Goethe de Frankfurt, o Instituto Max Planck de Química (Alemanha), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – que foi responsável pela licença da expedição científica coordenada pelo pesquisador Dirceu Herdies, também autor do artigo –, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a USP.


Equipe do CAFE-Brazil, sediada em Manaus (foto: divulgação)

Recentemente, outro estudo liderado por Machado foi publicado na revista Nature Geoscience mostrando que a floresta é capaz de produzir sozinha aerossóis que, induzidos pela própria chuva, desencadeiam um processo de novas formações de nuvens e precipitação (leia mais em: agencia.fapesp.br/53265).

Os artigos Isoprene nitrates drive new particle formation in Amazon’s upper troposphere e New particle formation from isoprene in the upper troposphere podem ser lidos, respectivamente, em: www.nature.com/articles/s41586-024-08192-4 e www.nature.com/articles/s41586-024-08196-0.
 

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Qual é o impacto ambiental dos pneus descartados de forma irregular?

 




Por Stela Kos Director Latin America Mobility da TÜV Rheinland


A compra de pneus certificados com o selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) garante que os produtos atendem aos requisitos mínimos de segurança e qualidade para proteger os consumidores. Em maio último, o Inmetro, por meio dos órgãos delegados, e em parceria com a Receita Federal, realizou uma força tarefa em cumprimento do Plano Nacional de Vigilância de Mercado e apreendeu 730 pneus importados irregularmente para o Brasil. 


A operação combateu a entrada de produtos que não estavam em conformidade com as normas brasileiras e abrangeu 18 estados. Os agentes públicos vistoriaram mais de 74 mil itens em estabelecimentos comerciais e portos alfandegários. Durante a ação foi verificado se os produtos atendiam aos requisitos de marcação e informações obrigatórias, conforme a Portaria Nº 379, de 14 de setembro de 2021, que aprova o regulamento para pneus novos.


Além da falta de segurança para o consumidor, os pneus importados de maneira ilegal geram um problema ambiental. O descarte de pneus inservíveis no Brasil deve seguir a Instrução Normativa IBAMA nº 1, de 18 de março de 2010, que determina os procedimentos necessários para o cumprimento da Resolução CONAMA nº 416, de 30 de setembro de 2009, que estabelece os critérios para o gerenciamento ambientalmente adequado de pneus inservíveis e cria o PGP, Plano de Gerenciamento de Coleta, Armazenamento e destinação de Pneus inservíveis. 


O PGP é um documento obrigatório para fabricantes e importadores de pneus novos e seu objetivo é garantir a destinação ambientalmente adequada dos pneus inservíveis, reduzindo os impactos ambientais causados pelo descarte incorreto desses resíduos. O Plano deve conter informações como a quantidade de pneus comercializados ou utilizados, a forma de armazenamento dos produtos inservíveis, o transporte até o destino, a identificação dos pontos de coleta e reciclagem e a destinação final dos resíduos. Essa medida visa garantir transparência e rastreabilidade, permitindo que os órgãos ambientais verifiquem se fabricantes e importadores estão cumprindo suas responsabilidades.


Reciclagem e destinação correta de resíduos

Segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), em 2022, os fabricantes nacionais cumpriram 99,98% da meta de destinação de resíduos e os importadores 91,50%, dessa forma mais de 20 mil toneladas de pneus importados não tiveram a destinação correta. 


O elevado volume de produtos nacionais descartados de forma adequada deve-se ao Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis criado em 1999 pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP). Em 2007, as fabricantes nacionais criaram a Reciclanip, entidade voltada exclusivamente para a realização deste trabalho, que conta com mais de mil pontos de coleta no país. Apesar de ter sido criado por empresas com fábricas no Brasil, as importadoras podem participar da entidade para fazer a destinação correta de resíduos, mesmo que sua associação não seja permitida.

 

Os pneus, após cumprirem o seu ciclo de vida, tornam-se um grande desafio ambiental, pois são compostos por borracha, aço, poliéster e nylon, produtos que podem levar centenas de anos para se decompor completamente no ambiente. Além disso, quando descartados incorretamente, o produto pode se tornar foco para o acúmulo de água, o que favorece a proliferação de mosquitos transmissores de doenças, como o Aedes aegypti.


As tecnologias de destinação ambientalmente adequadas são:

  • Coprocessamento, que usa os pneus inservíveis em fornos de clínquer (material básico necessário para a fabricação de cimento) como substituto parcial de combustíveis e fonte de elementos metálicos;


  • Laminação, atividade em que os pneus inservíveis são cortados em lâminas e usados para a fabricação de artefatos de borracha;


  • Granulação, processo industrial de fabricação de borracha moída, em diferente granulometria, com separação e aproveitamento do aço;


  • Pirólise, decomposição térmica da borracha conduzido na ausência de oxigênio ou em condições em que a concentração de oxigênio é suficientemente baixa para não causar combustão, com geração de óleos, aço e negro de fumo.


Quando reciclados da forma correta, os pneus podem ser transformados em produtos como solados de sapatos, pisos para parques infantis, serem aplicados em campos de grama sintética e na fabricação de asfalto borracha. 


Embora existam normas que estabeleçam a obrigação de fabricantes e importadoras, a eficácia do sistema depende de um processo rigoroso de monitoramento. A aplicação prática da reciclagem também enfrenta desafios como a falta de infraestrutura em algumas regiões do país. Segundo dados do Ibama, em 2022, por exemplo, não ouve a declaração de descarte de pneus inservíveis na Região Norte. 


Ações como a realizada pelo Inmetro são importantes, pois o comércio de produtos importados de forma ilegal gera insegurança e lesa o consumidor, prejudica a indústria nacional e os importadores que trabalham conforme a lei, além de impactar o meio ambiente, pois mesmo com a regulamentação em vigor, um produto sem um responsável legal no país tem muito mais chances de não ser descartado da forma adequada. Nesse contexto, o processo de certificação é peça importante seja na certificação do produto quanto na de sistemas de gestão ambiental. 

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Um livro de poesia feito inteiramente de plástico reciclado


Nova obra de Pedro Tancini explora o tema do plástico para buscar o amor, o futuro e a literatura entre a violência do capitalismo

Poemas de Plástico, novo livro de poesia de Pedro Tancini, vai além da abstração e se torna a primeira obra de literatura do mundo produzida inteiramente com plástico reciclado e reciclável. As páginas são impressas em um papel sintético com as mesmas propriedades do papel de celulose, feito principalmente de tampinhas de garrafa PET coletadas por catadores. Já as capas de cada exemplar são personalizadas pelo próprio autor, com colagem de pedaços de plástico que ele retirou das praias do estado de São Paulo.

O projeto se baseia na contradição do plástico no mundo contemporâneo: ao mesmo tempo que é um material tão descartável, leva mais de quatrocentos anos para se decompor na natureza. É esse paradoxo que conecta os poemas, sejam os que denunciam a descartabilidade de tudo, inclusive do amor, na sociedade capitalista, sejam os que procuram um futuro diferente do fim para o qual o mundo está se encaminhando.

Como evitar as cada vez mais intensas e frequentes catástrofes ambientais se até as corporações que se posicionam como "amigas” do meio ambiente estão devastando o planeta? Como a vida psíquica e emocional é afetada pelo império do desperdício? Qual o poder da poesia dentro do sistema capitalista? Essas e outras questões são propostas pelo escritor entre poesias repletas de metalinguagem e ironia.

é nossa a culpa?
os castelos
que erguemos
para os inúteis reis
desta terra
e talvez seja a ilha
(de plástico)
nosso refúgio
mais doentio
nossa revolta
mais possível
nossa mais duradoura
destruição
(Poemas de Plástico, p. 41)

Em meio a versos que desbravam as margens da folha e desafiam as estruturas padrões de um trabalho poético, o livro em si é a tentativa de se fazer durar em uma realidade onde tudo parece inútil. A grande ironia é que, para fazer isso, Pedro Tancini utiliza o plástico, material que é produzido e descartado de forma irrestrita.

“Fiz questão de que o livro fosse produzido com plástico reciclado e reciclável para que o seu impacto ambiental se aproximasse do zero. Porém, a proposta da obra é alertar que, infelizmente, a saída não está no âmbito individual, pois o verdadeiro responsável pelas catástrofes ambientais e sociais que estamos vivendo é o sistema em si. O livro é uma tentativa de sobreviver psiquicamente e emocionalmente nesse mundo que nos violenta diariamente e, mais do que isso, vislumbrar caminhos possíveis de superação do capitalismo também por meio da poesia”, comenta o autor.

Poemas de Plástico tem o apoio do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, Economia e Indústrias Criativas.

FICHA TÉCNICA

Título: Poemas de Plástico
Autor: Pedro Tancini
ISBN: 978-65-01-12872-6
Páginas: 64
Preço: R$ 50
Onde comprar: Amazon

Sobre o autor: Pedro Tancini é poeta,  dramaturgo, ator, diretor, produtor e fundador do Coletivo Parêntesis de Teatro. É graduado em Comunicação Social pela ESPM, mestre em Comunicação e Práticas de Consumo também pela ESPM e pesquisa sobre os impactos do capitalismo contemporâneo nas sociedades do século XXI. Como autor, escreveu oito peças de teatro, publicou o livro de contos “Nove Autores – Nova Histórias” e a edição “Erramos” da revista literária “Moreia” junto de outros escritores. Teve, ainda, poemas, dramaturgias e crônicas selecionados por diversos editais e premiações. Em 2024, lançou os livros “Teatro à Venda”, “Professores Online” e Poemas de Plástico.

Redes sociais do autor:

Instagram: @pedrotancini e @coletivoparentesis



segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Nova lei para diesel verde vai permitir novas demandas a partir de 2025!

 


Nova lei de combustíveis sustentáveis abre portas para o diesel verde 


O Governo Federal sancionou a Lei 14.993, de 2024, para incentivar tanto a produção quanto o uso de combustíveis sustentáveis no Brasil. Com a nova lei, o mercado abre mais espaço para a produção dos chamados "combustíveis do futuro".


Para Vitor Dalcin, diretor da Ambiental Santos, a nova legislação, que altera os percentuais de mistura de etanol na gasolina, é um avanço tanto para o mercado de combustíveis quanto para as cadeias de sustentabilidade:


“Há um mínimo de 22% de biocombustível na mistura, que pode chegar até 35%. Na prática, a presença deste componente neutraliza a pegada de carbono e reduz a emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Os biocombustíveis são renováveis, e sua própria criação já demonstra isso, pois tudo é produzido com recursos reaproveitados, como resíduos da produção de cana-de-açúcar e óleo vegetal usado”.


Novidade abre mercado para diesel verde no Brasil

Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou que 18% do combustível utilizado no Brasil é biocombustível. Com a nova lei, Vitor vislumbra uma maior oferta desses combustíveis nos postos, especialmente com a possibilidade de produção do diesel verde.


A razão está no Programa Nacional do Diesel Verde (PNDV), do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que vai estabelecer a quantidade mínima de diesel verde a ser adicionada ao diesel vendido ao consumidor final todos os anos:


“O diesel verde ainda não é produzido no Brasil, mas essa alternativa, que nasce basicamente a partir de óleos vegetais e gorduras animais, pode ser o ponto de virada para o reaproveitamento de óleo usado. A primeira biorrefinaria está sendo construída em Manaus, com previsão para iniciar a produção já em 2025”.


Como será a chegada do diesel verde?

Haverá regras bem definidas: todos os anos será estabelecido o volume mínimo de diesel verde na mistura, levando em consideração fatores como oferta, disponibilidade de matéria-prima, capacidade de produção e localização para distribuição.


“Isso será ótimo para incentivar tanto a produção quanto a reciclagem de óleo usado em todo o Brasil. Assim que a primeira fábrica estiver operando, outras serão criadas seguindo esse padrão. É mais um mercado que se abre para a reciclagem de óleo vegetal usado, que é altamente poluente” conclui Dalcin.

domingo, 10 de novembro de 2024

Espetáculo 'Água à Vista' leva conscientização ambiental a São Bernardo do Campo (SP)



 No último dia 8 de outubro, a peça "Água à Vista", encenada pela Companhia de Teatro Parafernália, impactou mais de 250 pessoas, incluindo crianças, adolescentes, professores e colaboradores da comunidade do Cafezal, na região do Montanhão, em São Bernardo do Campo (SP). O espetáculo, patrocinado pela Volkswagen Caminhões e Ônibus por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, teve como objetivo promover a conscientização sobre a importância da preservação da água e questões ambientais.


“Acreditamos que a arte tem o poder de transformar e inspirar ações. Ao apoiar um projeto como a Companhia de Teatro Parafernália, temos a possibilidade de promover a cultura e levar temas importantes às escolas. Desta forma, além de reforçar nosso compromisso com a comunidade, estamos oferecendo aos alunos a oportunidade de aprender sobre a importância da preservação ambiental de forma divertida e engajadora e plantando sementes que poderão transformar o mundo”, comenta Marco Saltini, vice-presidente de Relações Institucionais da Volkswagen Caminhões e Ônibus.


O espetáculo foi realizado na Associação Padre Leo Commissari por indicação da Fundação Grupo Volkswagen, responsável pela gestão dos incentivos fiscais das unidades de negócio do Grupo VW. A Fundação mantém parceria com a instituição para desenvolver diversas ações sociais voltadas à comunidade.


“Trazer a peça ao Montanhão faz parte da estratégia da Fundação, que tem o território como uma área prioritária de atuação. Foi uma oportunidade de democratizar o acesso à cultura, com foco especial nas crianças e jovens da comunidade do Cafezal, moradores da região", destacou Vitor Hugo Neia, diretor-geral da Fundação Grupo Volkswagen.


Conscientização em prol do meio ambiente

A peça apresenta a história de dois cientistas e um aventureiro em busca de soluções para a crise hídrica em um futuro distópico. O espetáculo envolveu o público de forma interativa, convidando espectadores a contribuírem para o desenrolar da trama, proporcionando uma experiência imersiva e enriquecedora.


Andreia Nunes, coordenadora da Companhia de Teatro Parafernália, comentou sobre a importância do apoio da empresa no projeto. "Acreditando na importância da educação e da conscientização ambiental, a Volkswagen Caminhões e Ônibus somou forças com a gente neste importante projeto de conscientização ambiental", disse.


“Foi emocionante ver a interação dos alunos e como a peça despertou a curiosidade e a reflexão sobre a preservação do nosso recurso mais precioso. Agradecemos à Volkswagen Caminhões e Ônibus pelo apoio, que tornou possível levar essa mensagem a mais pessoas. Acreditamos que o teatro é uma ferramenta poderosa para gerar mudanças e formar cidadãos conscientes”, finalizou.


O espetáculo "Água à Vista" está alinhado a oito dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, com foco na educação ambiental das novas gerações. Além da apresentação teatral, os participantes receberam cartilhas sobre preservação ambiental, reforçando as mensagens do espetáculo e incentivando ações práticas em prol do meio ambiente.


Sobre a Companhia de Teatro Parafernália

Com mais de 30 anos de trajetória, a Companhia de Teatro Parafernália é conhecida por suas produções que combinam entretenimento e reflexão sobre questões sociais e ambientais. A companhia realiza apresentações teatrais gratuitas em todo o Brasil, utilizando a arte como uma ferramenta de transformação.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Lixo eletrônico: o desperdício silencioso

 Lixo eletrônico: o desperdício silencioso

*Marcelo Souza

Presentes na maioria dos lares e empresas, os equipamentos eletroeletrônicos incluem desde utensílios básicos de cozinha até dispositivos de tecnologias de informação e comunicação, tais como telefones celulares e laptops. Cada produto tem um perfil de vida útil específico, o que significa que possuem diferentes quantidades de resíduos, valores econômicos e potenciais impactos na saúde e no meio ambiente, se reciclados de maneira inadequada. Quando o tempo de vida desse produto termina, ele se torna um resíduo eletroeletrônico (REEE).

Desde 2010 os REEEs aumentaram significativamente: isso se deve principalmente ao fato de que mais pessoas estão tendo acesso a celulares e internet. Por exemplo, o mundo conta com mais de 7,7 bilhões de assinaturas de telefone celular e, no Brasil, 83% dos indivíduos com dez anos ou mais possui telefone celular (NIC.br, 2019). Pode-se dizer que cada morador teve em média 3 aparelhos celulares nos últimos 10 anos, o que equivale a uma vida útil de mais ou menos 3 anos por aparelho.

A rápida obsolescência de dispositivos eletrônicos somado à constante evolução da tecnologia tem dado mais espaço para o descarte inadequado desses aparelhos, representando uma ameaça significativa ao meio ambiente e para a saúde humana. Os dispositivos eletrônicos contêm uma variedade de materiais tóxicos, como mercúrio, chumbo, cádmio e substâncias químicas perigosas. Quando esses produtos químicos entram em contato com o solo e a água, podem poluir o ambiente e prejudicar a fauna e flora local.

O que acontece é que muitos países desenvolvidos enviam seu lixo eletrônico para nações em desenvolvimento, onde é frequentemente processado e manuseado de maneira inadequada, causando danos ambientais e à saúde das pessoas envolvidas nesse processo. Além disso, os dispositivos eletrônicos contêm recursos preciosos, como ouro, prata e cobre, e quando esses aparelhos são descartados em aterros sanitários, esses recursos valiosos são perdidos.

Segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT) com dados de 2022, 97% dos REEE da América Latina não são descartados de forma sustentável, o que soma um valor perdido equivalente a US$ 1,7 bilhão por ano (pelo potencial de recuperação dos materiais preciosos que os compõem). Ainda, de acordo com dados do relatório sobre eletrônicos circulares apresentado no Fórum Econômico Mundial de Davos, de 2019, o lixo eletrônico a nível global tem um valor de pelo menos US$ 62,5 bilhões, o que corresponde ao Produto Interno Bruto (PIB) anual do Quênia.

Existem soluções sustentáveis para lidar com o lixo eletrônico. Isso inclui a reciclagem adequada de eletrônicos, a reutilização de componentes e a doação de dispositivos ainda funcionais para organizações que podem fornecê-los a comunidades carentes. Além disso, muitas empresas agora estão adotando programas de reciclagem e recondicionamento de dispositivos para reduzir o impacto ambiental.

Na minha experiência como empreendedor nesta área, com a reciclagem correta é possível recuperar cerca de 60% de metais preciosos (outro, prata, cobre); 15% de plásticos (que tem uma taxa de reciclagem bem abaixo da de metais devido a complexidade das misturas dos materiais); e 50% de vidro. Posto isso, vemos a importância da presença de empresas focadas no ecossistema de reciclagem e remanufatura de REEE. Desta forma é possível gerar valor a partir de algo que muitos veem apenas como lixo e ainda criar empregos formalizados e com condições justas de trabalhos, além de prevenir a exposição humana a toxicidade de alguns materiais presentes nos dispositivos eletrônicos.



 

*Marcelo Souza é especialista em economia circular, professor universitário e autor da antologia Reciclagem de A a Z. Também é presidente do Instituto Nacional de Economia Circular, CEO da Indústria Fox – Economia Circular



terça-feira, 10 de setembro de 2024

Setcesp divulga finalistas do 10º Prêmio de Sustentabilidade

 A premiação celebra uma década com as melhores práticas ESG e segurança viária do Transporte Rodoviário de Cargas




O Setcesp (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São Paulo e Região) anunciou nesta terça-feira, 10, os finalistas do 10º Prêmio de Sustentabilidade, que é dividido em quatro categorias: Governança, Responsabilidade Ambiental, Responsabilidade Social e Responsabilidade na Segurança Viária ou do Trabalho. Os vencedores serão conhecidos no dia 10 de outubro.




O evento de premiação que completa uma década neste ano, foi lançado em 2015 com a intenção de reconhecer e destacar as empresas de transporte que estão criando projetos de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, e por meio deles, reduzem os impactos ambientais, geram desenvolvimento social e econômico e que prezam pela segurança viária e do trabalho de seus colaboradores e de toda a sociedade.




Desde o início do prêmio, mais de 383 projetos já foram inscritos, com 229 empresas participantes. Ao todo, as iniciativas resultaram em 2.179.985m³ de água economizada, 971.959 árvores plantadas, 435.991 toneladas de materiais reciclados, 430.915 horas de treinamentos para os profissionais do TRC, além de ações que beneficiaram 47.119.482 pessoas.




“A premiação tornou-se um catalisador de mudanças positivas, disseminando conhecimento, inspirando ações inovadoras e fomentando a adoção de práticas mais sustentáveis em toda cadeia logística”, conta o presidente do Conselho Superior e de Administração do Setcesp, Adriano Depentor.




A transmissão da cerimônia de premiação acontecerá no dia 10 de outubro, às 16h, pelo Youtube. Para acessar a live do evento, Clique Aqui.


https://youtu.be/GNjY0e7q3uM





Confira abaixo os projetos e empresas finalistas do 10º Prêmio de Sustentabilidade do Setcesp nas diferentes categorias.


Responsabilidade Ambiental:

Ativa Logística - O projeto “Base de Valorização Sustentável” promove a economia circular, redução de custos e minimiza os impactos ambientais por meio da reutilização de pallets. Mais de 360 mil pallets foram reutilizados pelo projeto, o que significa que cerca de 89 mil árvores foram poupadas. Ao todo, o ‘Base de Valorização Sustentável’ gerou uma economia de aproximadamente R$9 milhões de 2018 a 2023 para a companhia.


PizzattoLog -

O projeto "Baú Sustentável" tem como propósito promover a sustentabilidade no setor de transporte de cargas por meio da fabricação de baús com materiais recicláveis e fontes renováveis. O principal impacto é a redução significativa de resíduos sólidos e a diminuição da dependência de recursos naturais, com destaque para a substituição do alumínio, material altamente intensivo em energia, por chapas recicladas. Até o momento, já foram recicladas mais de 1 tonelada de materiais, com a meta de alcançar 8 toneladas até 2030. O projeto também conta com a participação de uma motorista mulher e tem contribuído para a redução de aproximadamente 7 toneladas de emissões de CO₂ por ano, fortalecendo uma economia mais circular e sustentável no setor.


Social:

Grupo SADA - O projeto “Faça Bonito”, iniciativa Programa na Mão Certa da ChildHood, busca conscientizar e mobilizar colaboradores, parceiros e comunidades sobre o combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Através dessa iniciativa, foram realizadas diversas ações, como caminhadas, parcerias com centros de referência de assistência social (CRAs) e com postos de combustíveis. Ao todo, mais de 7.500 colaboradores foram sensibilizados, e mais de 50 mil pessoas foram impactadas em todo o Brasil. 


TransJordano - O projeto “Social em Movimento” busca impactar os colaboradores e a comunidade. Com ações de saúde e bem-estar, primeiro a empresa viabilizou a vacinação de mais de 2 mil crianças, ao identificar áreas com baixa cobertura vacinal, em parceria com a Secretaria de Saúde da região, e realizar a ação de multivacinação nas localidades mais carentes. Além disso, fez um trabalho com foco na meditação ‘Mindfulness’ (Atenção Plena) que busca melhorar a saúde física e mental de seus profissionais, resultando em uma redução de mais de 80% em acidentes e multas. Mais de 200 colaboradores foram beneficiados. 


Governança:

Expresso Mirassol - O “Líderes do Futuro” é direcionado a colaboradores que desejam crescer profissionalmente, e visa formar novos líderes para promover o crescimento sustentável da empresa. Com mentorias e treinamentos on-line individualizados, foi oferecido um programa completo de aprendizado, abrangendo desde conhecimentos técnicos até habilidades comportamentais. O projeto já gerou uma economia de R$200 mil à empresa, principalmente devido à redução do turnover.


Patrus -  Com o projeto “Governança com Perenidade" e o foco no fortalecimento da governança corporativa, ética e integridade, a empresa implementou ações estratégicas como mapeamento de cultura, comitês de ética e gestão, certificações e revisão da matriz de materialidade. Esses esforços resultaram em maior clareza e objetividade na definição de estratégias e metas, promovendo um ambiente de trabalho mais justo e ético.


Segurança Viária:

CESLOG - O projeto “Acidente Zero: Manutenção de Equipamentos e Vidas”, buscou garantir a saúde e segurança dos colaboradores, prevenindo e reduzindo o número de acidentes de trabalho. Para isso, visitas em fornecedores, melhorias tecnológicas, interação com a operação e investimentos em equipamentos foram realizadas. A empresa alcançou zero acidentes internos em 2023, além de passar por uma transformação no ambiente de trabalho e maior aderência e engajamento das equipes operacionais nos programas de saúde e segurança.


JNR Transporte - Visando zerar acidentes com óbito e reduzir significativamente os custos com sinistros e multas, o projeto “BUDDY” utiliza inteligência artificial para aumentar a segurança nas operações da empresa, por meio da análise de imagens de câmeras instaladas nos veículos. Com a ação, a empresa teve R$560 mil em economia de multas de maio de 2023 a maio de 2024 e apresentou uma redução de R$884 mil em custos.


A 10ª edição do Prêmio de Sustentabilidade SETCESP conta com o patrocínio de Mercedes-Benz Brasil, De Nigris e Transpocred.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Atleta passa mal e Bélgica desiste da disputa do triatlo misto

 


Decisão foi motivada por poluição da água do Rio Sena

O Comitê Olímpico da Bélgica anunciou neste domingo (4) que a equipe do país não participará da prova do triatlo misto dos Jogos de Paris, programada para a próxima segunda-feira (5). Segundo o comitê, a desistência aconteceu após Claire Michel, uma das atletas do time, ficar doente.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

CropLife Brasil e USP lançam segunda edição de formação para combate a insumos agrícolas ilegais

 

Defensivos agrícolas ilegais apreendidos em Goiás em 2024 / Foto Divulgação CropLife Brasil

‎    ‎
Programa, com o apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, capacita para investigação de ilícitos no campo. Mercado representa 25% e causa prejuízo de R$ 20 bi

São Paulo, 10 de junho de 2024  – Após o sucesso da primeira edição, que teve mais de 6 mil inscritos, a Escola de Segurança Multidimensional (ESEM), do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a CropLife Brasil (CLB), associação de empresas que atuam na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias para a produção agrícola sustentável, promovem a segunda edição do Programa de Formação no Combate aos Mercados Ilícitos de Insumos Agrícolas. O curso de extensão gratuito, que tem aulas online e apoio institucional do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), está com inscrições abertas e tem vagas limitadas.
 

A formação tem como objetivo capacitar profissionais do Brasil e do exterior para fiscalizar, investigar e reprimir práticas ilícitas no setor de insumos agrícolas. O curso é aberto e voltado para interessados, agentes de segurança, Forças Armadas e funcionários públicos de órgãos Aduaneiros, Fiscais, Ambientais, Agropecuários, Ministério Público e Poder Judiciário.


O programa deste ano será realizado de 15 de julho a 23 de setembro e oferece certificado de conclusão de curso de extensão da USP, com carga horária de 120 horas. Além disso, serão emitidos certificados da Escola de Segurança Multidimensional (ESEM) para cada um dos quatro módulos da formação.


Como novidade para 2024, a matrícula vale para os quatro módulos do curso – que no ano passado foram desenvolvidos separadamente. Ex-alunos que já participaram de qualquer módulo em 2023 podem novamente se inscrever. Após duas semanas de inscrições abertas, o programa já conta com mais de 500 inscritos – os módulos do programa de 2023 formaram quase 3 mil alunos.


O gerente de Combate a Produtos Ilegais da CLB, Nilto Mendes, ressalta a necessidade de formação e atualização constante. “Por meio do programa, oferecemos uma formação complementar e prática sobre a identificação de produtos suspeitos, cadeia de custódia, perícias, produção de provas e a tipificação penal para coibirmos o uso desses produtos. Com a nova lei, houve aumento da penalidade para os crimes relacionados à produção, armazenamento, transporte, importação, uso ou comercialização irregular de defensivos agrícolas. A pena, que era de dois a quatro anos, passa a ser agora de três a nove anos, além de multa e agravantes nas penas,” esclarece Mendes.


Segundo Leandro Piquet, coordenador acadêmico da ESEM/USP, o programa integrado de treinamento sobre insumos agrícolas ilegais tem uma importância estratégica. “Ele permite disseminar conhecimento sobre um tema de grande relevância para o país. O uso de insumos agrícolas ilegais afeta a geração de empregos na indústria brasileira, impacta diretamente o meio ambiente e a saúde pública, além de movimentar um mercado ilícito no qual organizações criminosas prosperam e ampliam o poder diante do Estado. Por essa razão, a ESEM estabeleceu uma ampla rede de parcerias com outras unidades da USP, como a ESALQ, o Ministério Público de São Paulo, órgãos de fiscalização dos governos federal e estadual, além da indústria do setor, para reunir e disseminar o conhecimento necessário para o combate aos insumos agrícolas ilegais,” explica um dos idealizadores da formação.


Mercado ilegal de 25% e R$ 20 bilhões em perda de arrecadação

Estima-se que 25% do mercado de insumos agrícolas no país seja de origem ilegal. Neste sentido, a CropLife Brasil realiza a incineração ambientalmente adequada de produtos ilegais, provenientes de contrabando, falsificação, adulteração e desvio de uso, apreendidos por órgãos de repressão e fiscalização, como Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Ibama, Polícias Rodoviária e Federal, Polícias Civil e Militar dos Estados. Em quatro anos de trabalho, já foram incineradas mais de 1 mil toneladas de agrotóxicos ilegais. Além disso, o número de apreensões e destinações mais do que dobrou em quatro anos: de 301 toneladas em 2020/2021 para 813 toneladas em 2022/2023.


A entidade trabalha ainda em outras duas frentes: campanhas de conscientização, como no ano passado como a Agricultor de Valor, para valorizar agricultores que utilizam produtos legais, e educação, com o curso.


De acordo com Eduardo Leão, diretor-presidente da CropLife Brasil, os dados refletem o sucesso da colaboração da associação com os órgãos fiscalizadores e de iniciativas de educação como esta. “A parceria com a ESEM-USP é uma ferramenta muito importante para avançarmos, cada vez mais, para investigação e combate ao uso de insumos ilícitos no setor agrícola,” destaca. São ações necessárias para proteger a produção agrícola, a saúde das pessoas e o meio ambiente, além de evitar o prejuízo econômico que esses crimes acarretam para a economia brasileira”, ressalta o executivo da entidade.
 

Eduardo Leão, diretor-presidente CLB / Foto Divulgação CropLife Brasil


Segundo um levantamento do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP) divulgado no ano passado, somente em 2022, o Brasil teve um prejuízo aproximado de R$ 20,8 bilhões em perda de arrecadação com impostos e danos causados por contrabando e pirataria de insumos agrícolas.
‎    ‎
 Serviço

  • Curso: Programa de Formação no Combate aos Mercados Ilícitos de Insumos Agrícolas
  • Período: 15/07/2024 até 23/09/2024
  • Carga horária: 120 horas
  • Formato: online, com aulas gravadas e atividades síncronas
  • Local:Plataforma da Escola de Segurança Multidimensional (ESEM)
  • Inscrições: no site da Universidade de São Paulo